O CONVENTO DE NOSSA SENHORA DOS ANJOS

terça-feira, 3 de agosto de 2010


Este monumento branco no sopé do morro de Nossa Senhora da Guia é uma das páginas vivas da história do Brasil e desta cidade de Cabo Frio.
Quem convive com seu interior sente instintivamente a vivência dos frades da Ordem I com os irmãos da Ordem III (seculares).

Os conventuais deixaram de participar deste reboliço quando em 1872 morreu o seu último frade, Frei Vitorino da Santa Felicidade, mas os irmãos leigos da Ordem III continuaram através dos séculos a se exercitarem na conservação do ideal franciscano e da casa, o que já era uma vaidade cabofriense.

O conjunto arquitetônico religioso, propriedade de Província da Imaculada Conceição da Ordem de São Francisco de Assis, consta de duas partes distintas:

* Convento e Igreja de Nossa Senhora dos Anjos ou Santa Maria dos Anjos cedido ao IPHAN através de convênio firmado em 12 de março de 1968 entre o Arcebispo de Niterói e a Diretoria de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional com a finalidade de instalar nas ruínas do primitivo Convento um Museu de Arte Religiosa, cabendo ao IPHAN a responsabilidade de manutenção e conservação do mesmo.

* Capela e Cemitério da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência, administrados pela Fraternidade de S.Francisco da Penitência (Fraternidade local da Ordem Franciscana Secular), cabendo a esta Fraternidade a responsabilidade de manutenção e conservação desta parte.

Todo o conjunto inclusive o Cruzeiro em frente, foi tombado em 17.01.1957,tendo sido estendido ao adro e todo o Largo de Sto Antônio e o Morro da Guia em 18.11.1966; possui também tombamento municipal de 28.11.1989.

O Convento de Nossa Senhora dos Anjos, em Cabo Frio, data de 1696. Surgiu da vontade dos primeiros moradores desta cidade, que no dia 01 de abril de 1617 fizeram ao governador Estêvão Gomes, uma petição de um sítio para os franciscanos construírem um convento. Esta petição foi despachada no mesmo dia, em nome de sua majestade, concedendo aos reverendos frades os chãos pedidos pelos moradores, nesta cidade de Asunção de Cabo Frio, e mais..., que ninguém nem seculares nem os ditos religiosos fizessem casas no monte, do pé para cima, mas apenas se utilizariam de pedras quantas necessárias e toda a água que se achasse dentro do sítio.

Setenta anos se passaram e somente durante a gestão do 3º Provincial Frei Agostinho da Conceição (1684 a 1687) foi tomada providência para a construção e, sua primeira pedra foi lançada por dois sacerdotes enviados para Cabo Frio. Segundo notas, a obra durou 12 anos, e só foi possível, depois que José de Barcelos Machado, residente na ilha do furado perto da lagoa feia (Quissamã), fez a oferta de 35 bois de suas fazendas para os conventuais, o que foi feito até 1852.

Em 13 de janeiro de 1696, inaugurado o convento, Frei Cristóvão da Madre de Deus Luz deu posse ao seu primeiro guardião Frei Serafino de Santa Rosa, seguido por Frei João de Santo Antônio e mais 63 frades que dirigiram este convento até 1872, quando ali só se encontravam além do guardião Frei Vitorino de Santa Felicidade, natural de Araruama(que só vivia como comissário dos Terceiros), mais um leigo e dois donatos que já não podiam se ocupar nos ofícios do convento. Em 07 de maio de 1853 em carta para os superiores ele se queixava de que até então contavam com o legado de Campos (doação dos bois), agora tirado. A Ordem Terceira manteve este último guardião até a sua morte em 07 de agosto de 1872, sendo este o último franciscano do convento, comissário ou pro-comissário junto à Ordem III.

A Ordem I I I e o Convento

Com a inauguração do convento a cidade ganhou um estabelecimento colegial de "primeiras letras" para meninos sendo ainda um recinto de estudo.
Conforme costume em todos os lugares onde se fundava um convento também era anexada uma Ordem III (Secular) com o fim de arrebanhar os fiéis e ao mesmo tempo dar instruções às crianças transformando os dois em escola. Assim criava-se mais vivência entre os conventuais e o povo da cidade.

Segundo notas, a Ordem III ( Venerável Ordem Terceira da Penitência de Cabo Frio) viveu primeiramente numa cela deste convento, depois então construiu por etapas a igreja da Ordem III.O povo desta cidade dedicou-se enormemente nesta obra, ora com seus escravos ora com doações.

Após ter recebido do Governo o terreno anexo ao Convento, a Ordem III iniciou as obras das catacumbas, com a pedra inicial lançada em 08 de dezembro de 1841, às cinco horas da tarde.
Depois das obras das catacumbas em 1841, somente em 1859 foram executadas as obras da sacristia e do aumento da capela da Ordem III, com o assentamento da primeira pedra no alicerce.

Em 08 de dezembro de 1859, o então ministro irmão Jacintho José Coelho procedeu ao sublime ato da apresentação da primeira pedra a ser colocada no alicerce de aumento da capela mor. A pedra preparada em lugar da pedreira intramuros do convento, foi conduzida em padiola decentemente ornada, acompanhada pelos irmãos até o corpo da igreja do convento onde foi depositada numa urna; o padre comissário, guardião do convento de Nossa Senhora dos Anjos, Frei Vitoriano da Santa Felicidade, vestido de Asperge, prosseguiu em procissão, com as imagens de Nossa Senhora da Conceição e de São Francisco em seus respectivos andores, seguidos dos irmãos para o lugar destinado ao erguimento da capela mor. Depois do benzimento da pedra assistido respeitosamente por todos os presentes, a dita pedra foi lançada em seu lugar, juntamente com a ata selada com o selo grande da Ordem e uma moeda de prata de mil réis cunhada no ano corrente, colocadas no côncavo da pedra.
O fim das obras do aumento da Capela de São Francisco foi anunciado pelo ministro encarregado, constando em ata da Ordem III, datada de 20 de julho de 1862.

Com a morte do último frade guardião a Ordem III assumiu automaticamente na medida do possível a ocupação da Igreja e torre do Convento, visto que as celas já não havia meio de recuperar. Isso ocorreu por volta de 1880. Foi criada a Irmandade de Nossa Senhora dos Anjos, para junto com a Ordem III conservar a Igreja e o que mais pudesse.
Com a volta dos franciscanos para a Paróquia, passa a Ordem III a ser comissariada por padres regulares e, coube a Frei Claudio Pierezan reunir a Irmandade e a Ordem III formando uma comissão composta do Irmão Alex Novelino, o Sr. Hilton Massa, presidente da Irmandade, acompanhados por Frei Basílio do Convento Santo Antônio, que providenciaram e conseguiram a restauração do Convento e da Ordem III, através de contatos com o Presidente da República General Eurico Gaspar Dutra.

O que aqui transcrevo é fruto de laboriosa pesquisa nos livros que restavam da Ordem III, carcomidos pelo tempo , um trabalho do irmão Alair Ferreira dos Santos, franciscano de dedicação ímpar à Ordem III e à história passada neste Convento, o qual víamos aqui diariamente cuidando de tudo com muito zelo e amor, recebendo a todos com grande simpatia e carinho e, fazendo da Igreja e cemitério da Ordem III sua segunda casa, a tal ponto que veio adormecer nos braços do Seráfico Pai São Francisco.

Consta que em 1917 houve um assalto com arrombamento na sacristia da capela de onde foram levados paramentos e objetos de uso litúrgico, avaliados na época em cinquenta contos de réis. Consta também um atentado com explosão, e depois disso o convento novamente esteve decadente, ficando em ruínas.

Ao encerrar este trabalho escreveu o irmão Alair Ferreira: "Hoje admiramos o que nossos antepassados fizeram e nos deixaram, sem nenhuma presunção, apenas por amor tentamos no presente conservar o que foi feito e preservar o nome de tantos cabofrienses , para que no futuro seus filhos, netos e demais sucessores, sintam que foram movidos unicamente pela fé e pelo amor aos fundamentos franciscanos".
Paz e Bem.



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